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Inovação Técnico

PLÁSTICO, ESTRELA DO DESIGN

20 de novembro de 2020 | 5 minutos de leitura

PLÁSTICO, ESTRELA DO DESIGN

Objeto moderno de desing feito de plástico
 

Os grandes projetos que utilizam o plástico não só precisam ser discutidos como colocados em prática. Uma empresa de design é a prova de que isso pode dar certo. O Movimento Plástico Transforma entrevistou Alex Terzariol, o designer italiano e diretor-geral da MM Design, com escritórios na Itália e no Brasil, sobre os vários aspectos que envolvem o uso do plástico no design de objetos.

Objeto moderno de desing feito de plástico

Alex Terzariol

MPT- Qual a importância do plástico para o design?

AT: É muito importante fazer as pessoas entenderem que o plástico é útil e ajuda em diversos projetos. Ajuda porque graças ao plástico nós podemos ter hoje muitos objetos, como por exemplo os smartphones. Eu estou sentado em uma cadeira de plástico, ou seja, temos ao nosso redor muitas coisas feitas de plástico e dificilmente teremos a possibilidade de mudar isso a curto prazo. Devemos buscar a utilização de materiais que, no futuro, possam ter um ciclo de vida interessante, isto é, que no fim de suas vidas poderão ser reutilizados. Esse é um aspecto importante para quem produz o plástico e para quem trabalha e desenha os produtos com ele também.

MPT- Como é realizado o estudo da estratégia de criação de produtos?

AT: Sobre isso devemos ser muito precisos. A primeira coisa é a responsabilidade de quem projeta. Eu tenho lecionado em uma universidade e sempre digo aos alunos: "Estejam atentos àquilo que vocês utilizam. Usem sempre aquilo que é justo, nunca a mais. Porque quanto vocês usam de material também é importante". Se eles usam materiais a mais, desperdiçam matérias-primas. Portanto, é preciso sempre encontrar ideias inteligentes para usar menos material, seja ele qual for. Não só o plástico. Isso serve também para metal, cerâmica e vidro. Então, todo e qualquer uso de material deve ser muito bem pensado. E devemos reduzir, reduzir, reduzir. Esse é o ponto de partida e da responsabilidade de qualquer projeto. Com o plástico, devemos estar mais atentos a "como" o usamos. Por isso é muito importante que empresas como a Braskem e a MM Design sejam capazes de informar aos projetistas cada uma das possibilidades do uso do plástico: esse plástico serve para isso, este outro para aquilo e os diferentes tipos de aplicação. É essa a responsabilidade que sempre deve estar em pauta. E o mais importante é que haja o diálogo entre quem produz e quem projeta. Eu, por várias vezes, à frente de um estúdio profissional, tenho acesso ao banco de dados da Basf, Bayer, DuPont e outras [empresas], mas não me canso de ir atrás de mais informações.

Objeto moderno de desing feito de plástico

Galaxy Body Armour

MPT - Como o design pode agregar valor aos produtos plásticos?

AT: Este também é um ponto muito importante. Nós, e acredito que muitos outros em realidades distintas, estamos prestando muita atenção ao retorno do investimento. Por quê? Porque o mundo mudou. Na Europa, éramos habituados a fazer um produto e, talvez, milhões de peças, e para isso utilizávamos materiais e tecnologias específicas. Por exemplo, usava-se ABS para fazer produtos, e a tecnologia era a de moldagem por injeção. Agora mudou tudo. Estamos trabalhando, muitas vezes, com muito menos produtos, que, na maioria das vezes, é para produzir apenas mil peças por ano e nada mais. Vamos fazer mil peças com esse material e não produziremos mais, então fazer um molde para produzir apenas mil peças por ano é mais caro e não compensa. Agora, estamos utilizando, na maioria das vezes, plástico, porém com outras tecnologias que permitem um custo de modelagem mais baixo. Porque se eu devo fazer um molde para uma peça específica e ele vai custar 100 mil euros, não vou ter, nunca, um retorno desse investimento. Mas se eu gasto 20 mil ou 30 mil euros para fazer o mesmo molde, eu consigo ter retorno do meu investimento. Então, isso é muito importante hoje, isto é, um estúdio de design deve entender quais são as exigências do cliente e utilizar não só o material plástico, mas também a tecnologia corretamente adaptada ao projeto. Porque não é somente uma questão de material. Os materiais mudam. No início, a rotomoldagem era uma tecnologia mais artesanal, usada para fazer tanques para gasolina, por exemplo. Mas o que mudou? A rotomoldagem foi aperfeiçoada, e os materiais usados também, e isso permite um acabamento maravilhoso. A tecnologia é a mesma, mas o material mudou. Isso o designer tem que saber, ele deve conhecer isso. Isso é conhecimento. Se não existe conhecimento, não se consegue criar inovações. Portanto, estamos bem no centro, entre a produção e o mercado. E devemos tentar entendê-los bem para conseguir desenvolver os melhores produtos possíveis. É estratégico!

Objeto moderno de desing feito de plástico

Giravolta

Objeto moderno de desing feito de plástico

Easytherm

Objeto moderno de desing feito de plástico

Masterlite

MPT - O que pode ser feito de plástico?

AT: Hoje é difícil dizer o que não pode ser feito com plástico. Podemos falar do plástico altamente especializado para uso até no espaço. Já se fala da possibilidade de substituir as peças de cerâmica das cabines dos foguetes, porque a cerâmica pode se quebrar e o plástico não, por conta da temperatura de retorno à atmosfera. Estamos falando de um plástico de altíssimo nível, claro. As pessoas pensam em um copinho sempre que pensam no plástico, mas o mundo do plástico é muito mais incrível. As pessoas não se dão conta de que todos os dias vivem com o plástico. Eu uso um relógio de plástico. Todas as coisas que estão ao nosso redor são de plástico. Mas não é por isso que devemos condenar o plástico, podemos condenar o uso errado dele. Haverá uma mudança e utilizaremos materiais biodegradáveis e plásticos que vêm diretamente da natureza, como da soja, do milho, da cana-de-açúcar.

MPT - Em uma empresa, como pode acontecer o design thinking?

AT: O processo de design thinking é um processo que nós, como designers, usamos normalmente. As empresas sempre ouvem falar de design thinking e no final desistem de introduzir esse pensamento em seus processos. Por quê? Creio que é um problema de educação. É necessário tentar comunicar quanto isso é importante, que desde o primeiro momento, quando um novo produto nasce, ele tem que ser divergente, estar aberto a muitas possibilidades. Depois, quando todas as possibilidades são enxergadas, começa-se a eliminá-las. Esse é o processo de design thinking. Primeiro começa-se a convergir em relação a alguns aspectos claros que podem ser utilizados e, depois, deve-se logo divergir, fazendo uma série de propostas para novos materiais ou novos produtos, na minha opinião, e no final escolher aquele que deve seguir em frente. Hoje, na maioria das empresas, pratica-se o contrário: primeiro olha-se o que faz o concorrente e depois vem o pensamento de fazer um pouco melhor. Isso não é design thinking. Se quiser ser realmente inovador, se não quiser ser apenas um seguidor, mas um transgressor, não se deve copiar. Deve existir, ao contrário, a própria linha de pensamento. Se eu faço este objeto um pouco mais bonito, ou um pouco melhor que o do concorrente, mas nada além disso, onde está o problema? No preço. O preço vira o maior discurso. Ou quero algo novo? Às vezes, eu quero beber água de uma outra forma que não seja em um copo, por exemplo. Então, isso é um processo de design thinking. Quando você parte desde o início não focando no objeto, mas, sim, em uma ideia, em um propósito. O tema é beber água, não o copo. Isso muda completamente o processo. Nesse sentido, muitas empresas - e nós procuramos ajudar como designers - precisam ser pegas pela mão e acompanhadas nesse processo, porque elas o ignoram, ou melhor, sempre ouviram falar sobre isso em workshops, seminários etc., mas, no fim das contas, as pessoas nas empresas precisam ser capazes de aplicar. A aplicação dessas ferramentas, que são estratégicas, mas também de protocolo, isto é, coisas que precisam ser aprendidas a serem feitas diariamente. É uma nova cultura e ela tem que ser ensinada passo a passo. Por isso que nós fazemos isso com as empresas: não desenhamos só o produto, ajudamos a empresa a crescer, inclusive, culturalmente. Porque isso ajuda as pessoas a se sentirem protagonistas. Temos que ter uma outra lógica, na qual todas as pessoas de qualquer empresa se sintam prontas para enfrentar um novo desafio. Devemos tentar engajar as pessoas e compartilhar com elas que existe um desafio e que ele é de todos. É importante que ninguém se sinta excluído.

Objeto moderno de desing feito de plástico

Alex Terzariol

MPT - O design aumenta as chances de o produto ingressar no mercado?

AT: Exatamente. Mas não só. Ele aumenta a ideia de branding daquela marca no mercado. Porque isto é o que procuramos fazer: se aquele produto é um bom produto e tal marca é uma marca que me satisfaz, eu procuro manter um vínculo sentimental com a empresa. Porque se ela faz bons produtos agora, possivelmente os próximos serão tão bons quanto.

MPT - E qual a sua opinião sobre a economia circular que o bom design pode proporcionar?

AT: Na última Semana de Design de Milão, por exemplo, falou-se muito sobre isso. De como o produto pode ser cada vez mais tema da economia circular. Foi apresentado um belo exemplo pelo arquiteto italiano Carlo Ratti, do MIT de Boston, que trabalha muito com inovação, no qual ele fala sobre como, graças ao uso de materiais reciclados, é possível criar novos produtos. Veja uma cadeira que teve seu ciclo como cadeira e, agora, no fim da sua vida útil, poderá ceder seus materiais para que possamos fazer uma outra coisa. Esse é um exemplo de economia circular. Existem outros, como os materiais que estão próximos de nós no dia a dia. O bioplástico é um outro exemplo inteligente de economia circular. É interessantíssimo quando podemos usá-lo. Uma garrafa PET teve um ciclo, nós a usamos e a descartamos, e esse foi o seu ciclo de vida. O design está muito atento a como desenvolver temas para a economia circular. Mas é importante entender como usar os recursos de uma forma justa, não trazendo matérias-primas de longe e, sim, utilizando materiais que estejam o mais próximo possível e de como poderemos reutilizá-los no fim do seu ciclo de vida.

MPT - Qual a sua visão sobre o futuro do design do plástico?

AT: Eu creio que serão cada vez mais importantes os centros de pesquisa, que ajudam os designers a desenvolver plásticos com desempenho cada vez melhor, não no sentido mecânico, mas de ser cada vez mais reutilizáveis e que possam ser usados para fazer outros produtos. A minha visão sobre o plástico do futuro é absolutamente positiva, mas devemos fazer um trabalho grande de comunicação e de design para ajudar as pessoas a usar melhor o plástico. Porque o uso do plástico pode ser comparado à educação alimentar: antes dizia-se que a manteiga fazia mal, porque é gordurosa, mas tudo depende de quanto comemos, porque se ingerirmos uma tonelada faz mal, claro, mas se a ingestão for de um pouco por dia, com moderação, é absolutamente natural, afinal é feita com leite e o mundo inteiro sempre a usou desde os primórdios. Depende sempre do uso que fazemos. O verdadeiro problema sempre é o abuso, e com o plástico é assim também. Se o usamos de maneira errada, faz mal, mas se o aproveitamos de maneira inteligente e consciente das suas melhores características, faz-se um uso que não iremos errar. Por isso, devemos nos informar. É muito importante um discurso entre as empresas, quem usa e quem projeta.

Objeto moderno de desing feito de plástico

Mini Traveler

Objeto moderno de desing feito de plástico

Troller

A MM Design tem escritórios nas cidades de Bolzano, Milão e São Paulo, nesta última representada pela arquiteta Cristine Stuermer.

Para saber mais, acesse o site www.mmdesign.eu

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